domingo, 15 de novembro de 2009

"A arte de cuspir ou (A dialética dos porcos)"

Pintura de W. Blake - Nebukadnezar (1795)

"Não se trata de ingressar no rebanho niilista, nem de criar um novo passatempo para discípulos de Schopenhauer, de Cioran, do budismo, do gnosticismo, dos adventistas ou do quer que seja. Apenas desejo apontar alguns truques e colocar a descoberto algumas das artimanhas que vêm sendo escamoteadas há séculos pelos estelionatários da moral , pelos comerciantes das leis e dos saber, bem como por outros rufiões da modernidade."


Esta é a introdução do livro "A arte de cuspir ou (A dialética dos porcos)", de Ezio Flavio Bazzo. Conheci o autor em julho deste ano, no congresso da União Nacional dos Estudantes, em um dos meus passeios pelo campus da UnB, após um debate acalorado sobre reforma politica. Como passava grande parte do tempo nas longas filas do congresso, fui atrás de um livro para ler nestes momentos. Teria que ser um livro com textos curtos, poesia, cronicas, talvez uma revista ou um gibi. Foi então que vi um velho vendendo livros, eram suas próprias obras sobre cetisismo e a condição humana. Conversei com o anarco-velho, e comprei dele no valor de 10 contos de reais uma de suas obras. Eram frases avulsas, escritas em suas viagens, e apresentava um universo niilista incrível. Em suas orelhas (nas do livro, não nas do velho) havia um texto de uma ator de ficção cientifica belga chamado
Jacques Sternberg, transcrevo abaixo o texto para vocês entenderem um pouco do espírito da obra:

Teoricamente, o homem é um ser humano.
Praticamente, é um tubo furado nas duas extremidades.
Mecanicamente, é um corpo pesado que rola de um abismo a outro.
Biologicamenta, é um esqueleto hábil.
Poeticamente, é um herói de sorriso doce.
Comercialmente, é um pedaço de bife de mais de 50 quilos com muita banha e muitos resíduos.
Quimicamente, é uma mistura de água de sangue e de ar.
Temporalmente, é um relógio feito para parar um dia.
Financeiramente, é uma conta ao revés que sonha ter uma conta no banco.
Culinariamente, é o prato preferido que devora a si mesmo.
Historicamente, é um cadaver de um verdugo ou de uma vítima.
Teatralmente, é o interprete monocorde de um monólogo sem interesse.
Geometricamente, é uma subtração final que se toma por uma adição.
Industrialmente, é uma máquina para fazer girar as maquinas.
Sideralmente, é uma merda de mosca perdida no meio das galáxias.
Publicitariamente, é a mais nobre conquista do detergente.
Religiosamente, é o altofalante do invisível e do inexistente.
Politicamente, é um catavento que indica de onde vem a palavra.
Cientificamente, é a prova mais recente da morte.
Cronologicamente, é um grande macaco que luta para inventar-se um porvir.
Musicalmente, é um canal Hi-Fi que só retransmite sons inuteis e discordantes.
Superlativamente é um ser pensante.
Geologicamente, é um futuro fóssil.
Originalmente, é um pequeno "nada" que quer ser um "tudo".
Cumulativamente, é um morto ainda em vida.
Juridicamente, é um culpado deixado em liberdade em sua prissão pessoal.
Abstratamente, é uma entidade que acredita ser uma ideia.
Esteticamente, é uma flagrante falta de gosto.


"A arte de cuspir ou (A dialética dos porcos)", obra anarco-niilista, tratado sobre o ser humano, nas palavras do autor: "cuspir é uma arte perversa".

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